quinta-feira

Diálogo (?!) com a Folha de Pernambuco

Violência
Diálogo com a Folha de Pernambuco
O Ombuds PE publica um artigo de Eveline Alves que analisa a cobertura da Folha de Pernambuco (FP) em relação ao assassinato de Wal Silva, radialista, morto na madrugada de 14 de junho. Essa foi mais uma cobertura da FP que expõe o corpo das vítimas. O Ombuds PE acredita que, para mostrar a violência, não há necessidade da exposição dos corpos, até porque coberturas assim não são feitas quando a vítima é de famílias "renomadas" do Estado de Pernambuco.

Fato: A violência e a ética na mídia. Onde ficam os direitos do cidadão?

É com muito pesar que escrevo hoje esse post. Há cinco dias perdi um amigo muito querido. Wal Silva, radialista, produtor, profissional competente, amigo, e acima de tudo, um ser humano extraordinário. Brutal e covardemente assassinado com dois tiros nas costas, no centro do Recife em plena madrugada do sábado dia 14 de junho de 2008.

Ávidos por notícias numa cidade onde o crime e a violência não são, senão os maiores factos geradores e alimentadores de uma mídia insaciável, os veículos de comunicação da cidade, correram ao local a fim de registrar a tragédia. Não que se tenha que esconder. A cidade do Recife vive um caos. É certo. A segurança está falida e as autoridades competentes (?) pouco conseguem fazer para conter o avanço da criminalidade. Jargão??? Pode ser. Mas a realidade é que não há acção satisfatória na direcção de conter esse caos. Assim sendo, o que resta aos cidadãos? Fugir?? Seremos então nós, pessoas íntegras, trabalhadoras, cidadãos de bem, que teremos que abandonar nossa cidade e deixá-la entregue ao banditismo por falta de opção? Teremos nós que rezar todos os dias antes de sair de casa, pedindo proteção divina para voltar vivo ao fim de uma jornada de trabalho, já que os que devem dar segurança ao povo não o conseguem fazer??

A violência está sem medidas, e de certa forma, contribuímos nós, profissionais de comunicação para propagar essa vaga. Como assim? Pois não somos nós os responsáveis que estamos a veicular desmedidamente o que acontece, sem nos preocuparmos com os efeitos causados? Não somos nós, interessados em aumentar nosso público que, sem nenhuma preocupação executamos – sim, apenas executamos, como máquinas programadas – todos os dias a divulgação de crimes bárbaros, expondo vítimas, que deveriam ser tratadas com respeito e pudor?

Pois bem... No último dia 14 perdi um amigo, e alguns veículos de comunicação, ansiosos por prender a atenção do público, cada qual querendo a maior fatia, não apenas noticiaram o fato, mas expuseram a imagem do colega de profissão, morto, baleado, estendido no chão molhado pela chuva numa avenida do centro do Recife.

Indignada que fiquei, enviei um mail de protesto a um jornal que expôs foto na capa. Depois fiquei a saber que outros veículos também fizeram o mesmo. Como não vi, não posso falar do que “ouvi dizer”.

Eveline Alves

O artigo também publica troca de emails com a Folha de Pernambuco. Quem quiser ter acesso a essas informações, acesse o site http://vermelhadh.blogspot.com/2008/06/fato-violncia-e-tica-na-mdia-onde-ficam.html

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